O laboratório é muito mais do que um edifício repleto de instrumentos científicos; é um lugar onde mentes se reúnem para inovar, descobrir e encontrar soluções para problemas urgentes, como demonstrado durante a pandemia de COVID-19. Portanto, projetar um laboratório como um local de trabalho holístico que atenda às necessidades diárias dos cientistas é tão importante quanto projetar um laboratório com a infraestrutura necessária para suportar tecnologias avançadas. Marilee Lloyd, arquiteta sênior de laboratórios do HED, concedeu recentemente uma entrevista ao Labcompare para discutir o que ela chama de novo Ambiente de Trabalho Científico, uma estrutura de design de laboratório que se concentra em promover a colaboração e criar um espaço onde os cientistas adoram trabalhar.
O ambiente de trabalho científico é colaborativo
Grandes inovações científicas seriam quase impossíveis sem muitos indivíduos e grupos trabalhando juntos em direção a um objetivo comum, cada um trazendo suas próprias ideias, expertise e recursos para a mesa. Ainda assim, espaços laboratoriais dedicados são frequentemente considerados isolados e separados do restante da instalação, em parte devido à necessidade de conter experimentos altamente sensíveis. Embora as áreas de um laboratório possam ser fisicamente fechadas, isso não significa que elas precisem ser fechadas para colaboração, e pensar em laboratórios, escritórios e outros espaços de colaboração como partes integradas de um mesmo todo pode contribuir muito para a abertura da comunicação e do compartilhamento de ideias. Um exemplo simples de como esse conceito pode ser implementado no design de laboratórios é a incorporação de conexões de vidro entre o laboratório e os espaços de trabalho, o que traz maior visibilidade e correspondência entre as duas áreas.
“Pensamos em coisas como permitir espaço para colaboração, mesmo que seja dentro do laboratório, fornecendo um pequeno espaço que permita a colocação de um quadro branco ou um pedaço de vidro entre o espaço de trabalho e o laboratório para que seja possível escrever e permitir essa capacidade de coordenação e comunicação”, disse Lloyd.
Além de trazer elementos colaborativos para dentro e entre o laboratório, promover a coordenação da equipe também depende do posicionamento central dos espaços de colaboração, onde sejam facilmente acessíveis a todos, e do agrupamento dos espaços de trabalho de forma a oferecer amplas oportunidades de interação entre os colegas. Parte disso inclui a análise de dados sobre as conexões dos funcionários dentro da organização.
“[É] saber quem nos departamentos de pesquisa deve estar próximo um do outro, para que as informações e os fluxos de trabalho sejam otimizados”, explicou Lloyd. “Houve um grande impulso há alguns anos para o mapeamento de redes sociais, e isso é entender quem está conectado e precisa de informações de quem em uma determinada empresa. E assim você começa a fazer conexões entre como essas pessoas interagem, quantas interações por semana, por mês, por ano elas têm. Você tem uma ideia de qual departamento ou grupo de pesquisa deve estar próximo de quem para maximizar a eficiência.”
Um exemplo de como essa estrutura foi implementada pelo HED está no Integrative Bioscience Center da Wayne State University, onde cerca de 20% da área líquida do centro compreende espaços de colaboração, conferência e lounge.1 O projeto enfatizou o engajamento interdisciplinar com um espaço de comunicação centralizado, espaços de trabalho agrupados por "tema" e uso de paredes de vidro para aumentar as conexões visuais entre os departamentos.2 Outro exemplo é o Wacker Chemical Innovation Center e sede regional, onde o uso de vidro transparente e grandes placas de piso contíguas para escritórios abertos e laboratórios promovem um "design extrovertido", oferecendo flexibilidade e oportunidade de colaboração.
O local de trabalho científico é flexível
A ciência é dinâmica e as necessidades dos laboratórios estão em constante evolução, com métodos aprimorados, novas tecnologias e crescimento dentro das organizações. A flexibilidade para integrar mudanças, tanto de longo prazo quanto do dia a dia, é uma qualidade importante no projeto de laboratórios e um componente essencial do ambiente de trabalho científico moderno.
Ao planejar o crescimento, os laboratórios devem considerar não apenas a metragem quadrada necessária para adicionar novos equipamentos, mas também se os fluxos de trabalho e os caminhos estão otimizados para que as novas instalações não causem interrupções. A inclusão de mais peças móveis, ajustáveis e modulares também adiciona uma medida de conveniência e permite que novos projetos e elementos sejam incorporados com mais facilidade.
“Sistemas flexíveis e adaptáveis são utilizados para que eles possam, até certo ponto, modificar o ambiente de acordo com suas necessidades”, disse Lloyd. “Eles podem alterar a altura da bancada. Usamos armários móveis com frequência, para que eles possam movê-los para que fiquem do jeito que quiserem. Eles podem ajustar a altura das prateleiras para acomodar um novo equipamento.”
O ambiente de trabalho científico é um lugar agradável para trabalhar
O elemento humano no design de laboratórios não deve ser negligenciado, e o Ambiente de Trabalho Científico pode ser considerado uma experiência, e não apenas um local ou edifício. O ambiente em que os cientistas trabalham por horas a fio pode ter uma grande influência em seu bem-estar e produtividade. Sempre que possível, elementos como luz natural e vistas podem promover um ambiente de trabalho mais saudável e agradável.
“Estamos muito atentos a coisas como elementos biofílicos para garantir que haja uma conexão, se for possível, com o exterior, para que alguém possa ver, mesmo que esteja no laboratório, árvores, o céu”, disse Lloyd. “Essa é uma daquelas coisas muito importantes que, muitas vezes, em ambientes científicos, você não necessariamente considera.”
Outra consideração são as comodidades, como áreas para comer, fazer exercícios e tomar banho durante os intervalos. Melhorar a qualidade da experiência no local de trabalho não se limita apenas ao conforto e ao tempo de inatividade – aspectos que ajudam os funcionários a realizar melhor seu trabalho também podem ser considerados no projeto do laboratório. Além da colaboração e da flexibilidade, a conectividade digital e os recursos de acesso remoto podem auxiliar atividades que vão da análise de dados ao monitoramento de animais e à comunicação com os membros da equipe. Conversar com os funcionários sobre o que eles precisam para melhorar sua experiência diária pode ajudar a criar um local de trabalho holístico que realmente apoie seus funcionários.
“É uma conversa sobre o que é crítico para eles. Qual é o caminho crítico deles? O que eles fazem com mais tempo? O que os frustra?”, disse Lloyd.
Data de publicação: 24 de maio de 2022